O que é Transtorno de Personalidade

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 700 milhões de pessoas no mundo sofrem com algum tipo de distúrbio mental, e o transtorno de personalidade está entre os mais observados. Trata-se de um padrão de comportamento permanente, que se evidencia no fim adolescência e início da vida adulta.

Assim, determinadas características — como a presença de sentimentos, pensamentos e ações que não se adaptam às diversas situações — tornam-se destaque nas pessoas com esse problema. Além disso, grandes consequências são geradas na vida do indivíduo e em suas relações interpessoais.

Por isso, é fundamental ter conhecimento sobre os sintomas desse transtorno para que se possa buscar auxílio profissional.

Tipos de Transtorno de Personalidade

Transtorno de personalidade esquizoide

Classificado pela falta de interesse em relações sociais, o transtorno de personalidade esquizoide pode ser percebido em pessoas introvertidas, solitárias, emocionalmente frias e distantes. São indivíduos por vezes absorvidos em seus próprios pensamentos e sentimentos, temendo a proximidade e intimidade com outros.

Para indivíduos com a personalidade esquizoide, relacionamentos são uma interferência à liberdade e tendem a causar problemas. Pessoas com esse distúrbio têm pouca vontade de ter relações sexuais com outra pessoa, bem como pouco prazer na realização de atividades em grupo. São caracterizados ainda pela falta de amigos ou confidentes que não sejam parentes de 1º grau.

Transtorno de personalidade paranoica

Tem por característica principal a interpretação de ações de terceiros como sendo deliberadamente ameaçadoras ou degradantes. As pessoas com transtorno de personalidade paranoica (ou paranoide) são desconfiadas ​​e propensas a explosões de fúria ou agressividade.

Indivíduos paranoides podem ser ciumentos, secretos e intrigantes, com o comportamento emocional “frio” ou excessivamente sério. Segundo o Guia Americano de Doenças Mentais (DSM), pessoas com transtorno de personalidade paranoica podem apresentar dúvidas quanto à lealdade de amigos ou colegas, com suspeitas infundadas de estarem sendo explorados, maltratados ou enganados por terceiros.

Além disso, têm relutância em perdoar insultos e aceitar elogios. Podem ser caracterizados ainda por terem suspeitas recorrentes quanto à fidelidade do cônjuge ou parceiro sexual.

Transtorno de personalidade esquizotípica

Pessoas diagnosticadas com esse transtorno podem ter maneiras incomuns de falar ou se vestir. São indivíduos que têm dificuldade em manter relacionamentos saudáveis, com crenças e comportamentos que não são compartilhados em seu contexto social.

Indivíduos com personalidade esquizotípica também têm pensamentos inusitados ou paranoicos, com dificuldade em formar relacionamentos e extrema ansiedade diante de situações sociais. São pessoas que tendem a declarar ter “habilidades extrassensoriais”, como ver o futuro ou ler a mente de outras pessoas.

Transtorno de personalidade antissocial

Pessoas com esse transtorno ignoram as regras normais de comportamento social. São impulsivos, irresponsáveis e insensíveis. São marcadas por um histórico de dificuldades legais, com comportamento irresponsável, relações agressivas e até mesmo violentas. Costumam apresentar um alto risco de abuso de substâncias, em especial o alcoolismo.

O transtorno de personalidade antissocial é comum entre indivíduos no início da vida adulta (a partir dos 18 anos). Segundo o DSM, pessoas com transtorno de personalidade antissocial têm dificuldade em conformar-se às normas éticas e legais, com a execução repetida de atos reprovados socialmente ou criminosos.

São indivíduos que podem apresentar comportamento impulsivo e incapacidade em seguir planos traçados para o futuro. Têm histórico constante de hostilidades, com episódios de lutas corporais ou agressões verbais violentas. A ausência de remorso e comportamento manipulativo também são característicos desse distúrbio.

Transtorno de personalidade borderline

Indivíduos diagnosticados com o distúrbio borderline são instáveis em diversas áreas, entre elas as relações interpessoais, comportamento, humor e autoimagem. São caracterizados por alterações extremas de humor, com uma autoimagem flutuante e relações interpessoais tempestuosas.

Além disso, são imprevisíveis e autodestrutivos, que geralmente têm grande dificuldade em manter um senso de identidade própria. Medo de abandono, dependência excessiva e automutilação são alguns dos comportamentos percebidos em borderlines, bem como sentimento de vazio crônico e rompantes de raiva sem fundamento e muitos borders recorrem ao uso de álcool e drogas como forma de lidar com a sensação comum de vazio interior.

Transtorno de personalidade narcisista

Pessoas com o transtorno de personalidade narcisista buscam atenção constante e apresentam uma sensação exagerada de autoimportância. Por isso, a personalidade narcisista é hipersensível ao fracasso, com mudanças de humor extremas entre a autoadmiração e a insegurança.

Segundo o Guia Americano de Doenças Mentais, narcisistas são tomados por um sentimento de grandiosidade, com exagero de realizações e talentos. São caracterizados ainda pela exploração de relacionamentos interpessoais, tirando vantagem de outros para atingir seus próprios objetivos. Exigem admiração excessiva, com inveja frequente de outras pessoas, comportamentos e atitudes arrogantes e insolentes.

Transtorno de personalidade evitativa

O transtorno de personalidade evitativa ou de esquiva atinge pessoas hipersensíveis à rejeição. Indivíduos diagnosticados com esse distúrbio não estão dispostos a se envolver com outras pessoas, a menos que estejam certos de uma recepção favorável.

É caracterizado por desconforto social excessivo, timidez, medo de crítica, esquiva de atividades sociais ou de contato interpessoal. Indivíduos com personalidade evitativa podem não ter relações íntimas fora do círculo familiar, ocasionando em frustração pela incapacidade de se relacionar bem com outros.

Transtorno de personalidade dependente

Esse distúrbio é característico de pessoas que apresentam comportamento dependente e submisso. São indivíduos que tendem a confiar que outros tomem decisões por eles. Personalidades dependentes exigem reafirmação excessiva e conselhos, sendo facilmente prejudicados por críticas ou desaprovação.

Pessoas com esse transtorno se sentem devastadas com o término de relacionamentos, por isso têm um medo extremo de rejeição. É um distúrbio diagnosticado com mais frequência em mulheres, com seus primeiros sinais aparecendo na idade adulta precoce.

Transtorno de personalidade compulsiva

Compulsivos tendem a assumir cada vez mais responsabilidades em suas vidas, sendo tomados por um sentimento grande de insatisfação quanto às realizações. São confiáveis, ordenados e metódicos. Apresentam ainda um perfeccionismo exacerbado, sendo inflexíveis a eventuais alterações de circunstâncias.

Indivíduos diagnosticados com o transtorno de personalidade compulsiva são altamente cautelosos, o que dificulta a tomada de decisões e realização de tarefas. Pessoas com personalidades compulsivas se sentem desamparadas diante de eventos imprevisíveis ou que dependam da participação e confiança de terceiros.

Sintomas do Transtorno de Personalidade

Existem diversos tipos de transtorno de personalidade, e cada um apresenta sintomas específicos. Abaixo, listaremos alguns desses sinais!

Desconfiança generalizada

Constantemente, há suspeita de que as pessoas ao redor não são confiáveis e têm intenção de causar prejuízos, porém, essas conclusões são tiradas a partir de ideias infundadas. A sensação de perseguição e exploração dificulta a relação com outros indivíduos, uma vez que acontecimentos sem relevância podem ser vistos como ameaçadores e humilhantes.

Por mais que exista afinidade com alguém, isso não é permanente. Dessa forma, o cotidiano acaba cada vez mais limitado pelo medo e desconfiança.

Falta de interesse em relacionamentos

Sintoma caracterizado pela ausência de atração por relações mais íntimas ou com familiares e amigos. A pessoa tem dificuldade de expor suas emoções e, além de preferir realizar atividades sozinha, é resistente a elogios e críticas, uma vez que costuma ser fria e pouco afetiva.

Carência excessiva

Embora o desinteresse por relacionamentos possa indicar o transtorno de personalidade, precisar de muito afeto também pode ser um sinal. Essa característica é tão evidente quando causada pelo distúrbio, que quem a tem se torna submisso a amigos e parceiros por necessitar de aprovação e apoio em todos os aspectos de sua vida.

Excesso de ego

Nesse caso, não se trata de uma elevada autoestima, e sim de um comportamento narcisista, caracterizado pela busca incansável de sempre ser o centro das atenções. O indivíduo sente necessidade de ser adorado e reconhecido e acredita em sua singularidade enquanto ser humano.

Perfeccionismo ao extremo

Sinal caracterizado pela preocupação frequente com organização. Por esse motivo, há dedicação extrema às tarefas domésticas, do trabalho e até atividades mais simples. O perfeccionismo se transforma em um empecilho na rotina.


Diagnóstico de Transtorno de Personalidade

Atenção: requer um diagnóstico de médico psiquiatra

De acordo com o doutor Cláudio Duarte, psiquiatra do Hospital Santa Mônica é comum que sejam realizadas muitas consultas e avaliações até que se chegue a um diagnóstico preciso, podendo ser necessária a aplicação de testes e instrumentos psicométricos.

“É importante ainda ouvir também familiares e indivíduos próximos ao paciente. Além disso, é necessário afastar elementos que possam confundir o profissional, como uso de álcool e drogas, quadros depressivos e neurológicos etc.”, afirma.

O médico ressalta que, muitas vezes, algumas das características que definem um transtorno da personalidade podem não ser consideradas problemas pelo sujeito que tem o transtorno — são os chamados traços egossintônicos.

Antecedentes culturais, étnicos e sociais do indivíduo também têm ser levados em conta. “Deve-se diferenciar transtorno da expressão de hábitos, costumes ou preceitos religiosos e políticos que podem ser normais e comuns na cultura de origem da pessoa, mas destoar quando ela vive e os expressa em outro local para onde migra ou está temporariamente”, explica o especialista.


Tratamento de Transtorno de Personalidade

Atenção: requer um diagnóstico de médico psiquiatra

Medicamentos

Antidepressivos ou Tranquilizantes

Tem mostrado resultados positivos na diminuição da ansiedade e da agitação típicos dos quadros de fobia, mas devem ser usados de maneira controlada e por um curto período para que não causem reações adversas ou problemas secundários.

Tratamentos

Terapia comportamental dialética

Baseada na análise do comportamento, é dividida por 3 estágios:

  1. Alcance de habilidades básicas e definição de metas, com redução de comportamentos que interferem na terapia e na qualidade de vida;
  2. Redução do “estresse pós-traumático” que visa descrever e aceitar interações traumáticas;
  3. Resolução de problemas de vida, com aumento ao respeito próprio e objetivos bem definidos (ex: aumentar a confiança em si, validar suas próprias emoções).

Terapia baseada na mentalização

A mentalização é o processo que ajuda o indivíduo a perceber seus estados mentais e dos outros, explica o médico do Hospital Santa Mônica. “Acredita-se que a recuperação proporcionada por esse processo ajude o paciente a construir habilidades de relacionamento que o auxiliam a regular melhor seus pensamentos e sentimentos”, completa.

Psicanálise / Psicodinâmica

“Essa é uma terapia focada na relação que se estabelece com o terapeuta, chamada de transferência”, conta doutor Claudio. “É como se você construísse uma relação ‘corretiva’ com análise de processos inconscientes e aumento de autoconhecimento”, completa.


Internação para quem tem Transtorno de Personalidade

Situações de crise e emergência: 011 4668-7455 – opção 5

Identificar o momento correto de se fazer uma internação é o principal desafio enfrentado por pessoas que convivem com distúrbios de personalidade. Afinal, em que ponto internar?

O médico explica: “O primeiro desafio é se perguntar: o paciente está percebendo seu comportamento, sofrimento ou prejuízos? Ele percebe que precisa de ajuda, e que há necessidade de uma mudança? Se sim, a evolução é mais favorável”.

Internação voluntária – com consentimento paciente

Se o paciente está ciente de sua situação e dos problemas com os quais convive, além de sofrer pelos sintomas da depressão, capazes de impactar vida, autoestima, trabalho e, principalmente, relacionamentos, a internação voluntária a ajuda a estar em contato com uma equipe multidisciplinar apta a zelar por seu tratamento e a reabilitá-lo de modo que possa voltar a conviver bem com si mesmo e com aqueles que ama.

Internação compulsória: contra a vontade do paciente

Família, cônjuge e amigos sofrem demasiadamente quando convivem com alguém querido que tem um transtorno como a depressão, triste por natureza.

Se ele for levado a circunstâncias extremas, em que o indivíduo se coloca ou põe outras pessoas em risco, a internação compulsória é uma das melhores formas de ajudá-lo e deixá-lo sob a assistência de equipe multidisciplinar.

O Hospital Santa Mônica zela pela saúde mental de crianças, jovens e adultos, além de tratar dependência química e de se dedicar à geriatria. Em 2019, completou 50 anos que atua como referência de hospital psiquiátrico, auxiliando também pacientes com fobia, em todos os seus estágios. Possui dúvidas sobre esse conteúdo? Para saber mais, entre em contato conosco.

Terapias e atividades que complementam o tratamento médico psiquiátrico